terça-feira, outubro 16, 2007

Dia-a-dia de...

Acordei com o som de uma abelha a voar. Espreguicei-me no sofá e deixei-me ficar deitado de olhos abertos.
O Sol já batia à janela. Levantei-me e fui até à varanda... Estava um dia lindo. Se pudesse ía para a praia e entregava-me às ondas até anoitecer. Passeei-me de um lado para o outro envolvido em pensamentos... Hoje a minha cabeça estava ocupada com o sonho que havia tido. Vi-me fechado num caixote do lixo rodeado de restos de comida... Não conseguia sair.
Trrriiim-trrriiiim, trrriiim-triiiim. O sossego matinal fora interrompido pelo horrível som do despertados vindo do quarto ao lado. Avistava-se o começo do pandemónio. Rotina.
Fui até ao quarto dela. Para variar, o primeiro toque do despertador não surtira efeito nenhum. Ela continuava deitada enrolada no cobertor. Deitei-me ao lado dela e beijei-lhe as bochechas e o nariz. Ela detesta que eu faça isto logo de manhã. Acorda logo e expulsa-me da cama.
Aconteceu tal como previ. Empurrou-me e sentou-se na cama. Hoje estava com um ar especialmente ensonado. Já sabia... Na noite anterior mal dormiu. Ficou até às tantas agarrada ao livro. Levantou-se e fechou-se na casa de banho.
Aproveitei a ausência dela para espreitar o livro. Confesso que não percebi nada. Prefiro as aventuras de Sherlock Holmes... Nunca descubro o culpado.
Barulho do outro quarto. Ele sai do quarto e começa a refilar com ela que está a tomar banho. A outra vai para a cozinha.
Começa assim mais uma manhã cá de casa.
Juntei-me à mais velha na cozinha. Ela abraçou-me e fez-me festas enquanto bebia o seu café.
Falou comigo como se eu fosse uma criança... Quando é que vai perceber que um ano meu vale sete dos dela? Já não tenho 5... tenho 35.
Fui passear com ele. Os dois. Só homens. Se pudesse tinha-lhe dito tudo o que penso sobre as suas atitudes ultimamente. Mas ninguém me perguntou nada. A relva cheirava hoje especialmente bem e o Sol aquecia-me as orelhas. Não me apetecia nada ir para casa. Mas por outro lado, iria ficar umas horinhas comigo mesmo a pensar no meu sonho.
Às nove da manhã a casa ficou finalmente vazia.
Despachei o meu pequeno-almoço (frango com arroz e legumes) um bocado à pressa e fui, uma vez mais, para a varanda apanhar sol.
A minha solidão estava constantemente a ser interrompida. Primeiro por duas moscas que não se calavam. Tive que lhes arrancar as asas para ver se faziam um bocadinho de silêncio. Depois por uma lagartixa que decidiu reclamar pelo espaço (MEU!) na varanda. Depois de um par de discussões com os vizinhos adormeci.
Acordei quando a outra chegou. Vinha aborrecida. Esteve a conversar comigo e eu consentia com o olhar. Nunca lhe respondo. Acho que lhe faz bem falar sozinha.
Depois isolou-se a ouvir valsas. Nunca percebi porque é que insiste em ouvir a mesma música dias e dias seguidos. Durante horas. Ora a mim, aborrece-me.
Deixei-a com as suas músicas, com as suas valsas e pus-me a fazer zapping na televisão. Gosto especialmente de ver anúncios. Se bem que a sua qualidade tem decrescido. Agora usam-se demasiados efeitos de computador. A meio da tarde, a outra abandonou as valsas e estivemos a brincar com a bola. Acho que a consegui divertir.... Como estava cansado, adormeci.
À noite, ele ligou a dizer que vinha tarde. Fiquei eu nomeado de homem da casa. Fiquei a tratar das minhas meninas, minhas mulheres. São engraçadas elas. Tão parecidas. Fomos passear os três, mas não me estavam a ligar nenhuma. Pareciam entretidas com uma conversa da qual apanhei apenas alguns nomes que já tinha lido num livro dela. Sentaram-se no banco de jardim enquanto eu punha a conversa em dia com o Boris. Mas o Boris ainda é novinho. Vem de uma família muito casual. Nada de excêntrico, como a minha. Eu cá prefiro as minhas meninas e ele.
Quando cheguei a casa lembrei-me que durante todo o dia não voltara a pensar no meu sonho. No tal do caixote do lixo. Também não tive tempo de o fazer durante o resto da noite. As meninas não paravam quietas. Falavam alto, voltaram a ouvir a tal música que já me enjoa e quando tentei fugir aos sons desagradáveis aos meus ouvidos, ela decidiu dançar comigo. É maluca. Completamente. São as duas, aliás. Eu não sei dançar... Pisei-lhe os pés uma data de vezes, mas ela nem se chateou- Não parava de rir.
Finalmente estão a dormir e tenho acesso ao computador.
Sei que ela vai achar que está maluquinha quando acordar amanhã e ler no blog um texto escrito por mim. Vais pensar que foi um dos seus amigos estranhos que resolveu pregar-lhe uma partida. Não vai acreditar.
Mas, que me desculpe, sempre senti este desejo de escrever e de contar a alguém um dia meu. Um dia desta vida.
Desta vida de cão.

Sunnie

5 comentários:

Anónimo disse...

absolutamente incrivel! sem duvida, 1 dos 3 melhores que ja li teus ! parabéns anna, de verdade.

Anónimo disse...

Cão porquê? Ele é que não aproveitou o dia. Foi um dia mais pasmacento, não o considero de cão. Opiniões... quem as não tem? =P

Anónimo disse...

Não o consideras um cão... Mas o texto é de um cão. O meu cão. Sunnie, cocker spaniel inglês. 5 anos de idade.

Anónimo disse...

AH! Só agora é que percebi! Que lenta que eu fui! Credo!

bulletproof disse...

LOL




Começo a simpatizar mais com o Sunnie.