quinta-feira, junho 17, 2010

Confissões de uma jovem rapariga

(...) E foi então que em busca de um remédio inverso, e porque não tinha a coragem de querer o genuíno, que estava tão perto, e, infelizmente, tão longe de mim, em mim mesma, novamente me entreguei aos prazeres culpáveis, crendo reanimar assim a chama extinta pelo mundo. Em vão. Retida pelo prazer de agradar, adiava dia a dia a decisão definitiva, a escolha, o acto verdadeiramente livre, a opção pela solidão. Eu não renunciava a nenhum desses vícios em prol de outro. Misturava-os. Que digo? Cada um encarregava-se de esmagar todos os obstáculos do pensamento e do sentimento que teriam contido o outro, aliciando-se mutuamente. Cursava o mundo para me acalmar depois de uma falta e cometia outra logo que sossegava. Foi nesse terrível momento, depois da inocência perdida, e antes do arrependimento de hoje, que fui a mais apreciada entre todos, nesse momento em que, de todos os momentos da minha vida, tive menos valor. Julgavam-me uma rapriguinha pretensiosa e tresloucada; agora, pelo contrário, as cinzas da minha imaginação estavam ao gosto do mundo, que nela se deliciava. Depois do suicídio do meu pensamento, a minha inteligência era admirada, o meu espírito exultado. A minha imaginação dissecada, a minha sensabilidade estancada, eram suficientes à sede dos mais àvidos de vida espiritual, dado o teor factício dessa sede, tão fraudulenta quanto a fonte onde acreditavam saciá-la (...)

[Marcel Proust]

3 comentários:

Marta Queiroz disse...

Sabia que irias gostar, especialmente deste exacto excerto que colocaste aqui.

Niusha disse...

Então. É o mais identificativo com a minha pessoa (Até a idade - 16). E o mais genial... é que ele escreveu isto em pleno séc. XIX.

Marta Queiroz disse...

"E eu adoro quando tu no final me vens dizer que gostastes.
Ou: "Eu sabia que conseguias!"
É bom ouvir isso de qualquer pessoa.
Mas de ti, dá-me força e confiança.
Não me perguntes porquê.
Eu não sei.
(...)
Gosto de ti.
Aprendi a gostar de ti.
E espero continuar a gostar.
E nunca me desiludir.
É difícil eu sei.
Mas pode ser que aconteça."

É engraçado como o que escrevemos à 4 anos atrás, parece pouco mas a diferença é tão grande cá dentro, se aplica tão bem agora.
Obrigada meu amor.
Minha Carrie.