sábado, fevereiro 14, 2009

Carruagem

Sentada no comboio.
Sozinha, completamente sozinha, com as pernas esticadas no banco ao lado.
Sonha, sozinha.
Vai para além da paisagem do mar e do horizonte, dos prédios engrafitados. Vai até ao outro lado do mundo, aos arranha-céus, às multidões que correm de um lado para o outro, aos teatros, aos cafés, ao ritmo que falta...
Vai para quando era pequena e tinha a mamã e o papá, a relva, os morangos do jardim, o patinho amarelo de borracha, o exércio de tropas de chocolate invisíveis de quem era comandante e o sabor a madeira quente.
Vai para quando era uma miúdinha armada em graffiter, de calças largas, o cabelo vermelho preso em rabo de cavalo, um riso estridente e a língua solta para dizer citações inteligentes dos livros que lia para irritar qualquer professor em cuja aula adormecia. Quando ela não tinha medo, quando percorria um futuro enorme com os seus ténis, sonhando com os maiores palcos do mundo.
Recorda-se do que já passou, da arrogância, do sabor da Carbonara, das calças de ganga rasgadas, dos choros, das alegrias, do Pacman, dos que vieram e se foram embora, dos homens, das mulheres, dos filmes...
Regressa à janela, ao mar azul, às gaivotas, aos raios do sol. Se eles a levassem agora para longe daqui, longe, para um local como a terra do Nunca, onde fosse...
-O SEU BILHETE POR FAVOR?

2 comentários:

VR disse...

Sera que esta viagem foi depois da vezita ao mundo inteligivel de niuxa vanda e celina? alegoria da praia de cascais?


estavamos num outro mundo e era muito bom o nosso mundo sem pessoas burras HAHAHAHAH


O adoro-te que so nos vivemos

sapateando... disse...

exactamente!
fontosíntese perfeita!