(...)O véu esconde as minhas lágrimas e o sangue mistura-se com o vinho tinto na dor de cigarro mal-apagado que ainda se sente no cinzeiro.
Não sei se chame de loucura ao que eu escrevo, sabendo que amanhã não me vou lembrar de nada disto.
Mas palavra por palavra escrevo-me, sinto-me, e pinto de preto este pequeno quadro chamado Inocência.
23.Maio
(...)Só gostava de não adormecer agarrada à almofada.
Não percebo o que me deu para substituir o meu predilecto gozo da solidão por esta necessidade quase física de me sentir protegida. Não percebo de onde vem tudo isto.
Mas por alguma razão dói-me a chegada da noite, doem-me as estrelas no ceu e dói-me a lua.
Tenho medo de fehcar os olhos e ainda mais de os abrir no dia a seguir.
Fosse eu mais forte ou talvez mais fraca...(...)
24.Maio
(...)Não há lua esta noite.
Não há nada que entretenha os mes olhos nesta busca da resposta para a pergnta que não fiz.(...)
Não uso metáforas apenas comparo. Aqui digo toda a verdade, em contraste com a metáfora em que me transformei(...)
28.Maio
Quando digo que me sinto cansada não procuro pena nem compaixão, apenas constatação de factos. O sol brilha esta manhã.
Aprendi a gostar das manhãs como outrora gostei da noite. A noite agora assusta-me, leva-me para um mundo onde sonho pesadelos acordada. Já a manhã traz-me o calor e a companhia do sol, enquando à noite estou sozinha ao relento e a única companheira é o delírio.
Falo tanto de mim que me tornei personagem principal desta obra da qual não quero fazer parte.
29.Maio
Nem grande nem pequena, nem gorda nem magra, nem feia nem bonita. Escreve e chora e depois sorri.
Não te percas nos cruzamentos da vida, segue o teu caminho, decora as razões para sorrir, aprende os passos da coreografia do sonhar. Como a melancolia da perdição parece sedutora... No entanto o abismo não é para ti.
30.Maio
Que esta experiência do delírio tenha chegado ao fim e dado lugar à experiência da lucidez...
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